quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O fator RH quando dois gigantes se unem

Itau Unibanco, o desafio enfrentado pelo RH no processo de integração. A dura missão de realocação dos profissionais alvos de possíveis cortes.

Um grande desafio. Foi assim que o diretor de Rh do Itaú, Adriano Lima, definiu a fusão com o Unibanco em evento que a Julio Sergio Cardozo & Associados promoveu recentemente. O executivo reconhece que o processo de integração, previsto para ser finalizado até o final do ano, exige atenção redobrada. "Não é nada fácil integrar pouco mais de 100 mil profissionais", afirmou.

Sempre preocupados com as pessoas que não pudessem ser aproveitadas, o executivo contou que a área de RH se uniu ao sindicato para ajudá-los na missão de realocação dos profissionais alvos de possíveis cortes. "Não tivemos demissões, só o turnover natural que é peculiar nesse tipo de operação", disse Lima.

De olho no mercado internacional, o Itaú Unibanco viu com a fusão a chance de ampliar sua atuação lá fora. Além, claro, de ganhar fôlego para competir com outros bancos globais, a exemplo do Santander. Tanto que pulou da 15ª posição do ranking dos maiores bancos do mundo para o 9° lugar. Para falar sobre os futuros planos do banco e como tem sido essa integração, o diretor de RH me concedeu entrevista exclusiva. Leia trechos abaixo:

Qual o maior desafio no processo de fusão com o Unibanco?

Promover a integração de um universo tão grande de pessoas. Foram mais de 30 mil do Unibanco e cerca de 60 mil do Itaú. Embora exista essa complexidade, enxergamos como ponto positivo o fato de o banco ter saído já no primeiro dia do anúncio da fusão com uma campanha no mercado de ser o maior banco do hemisfério sul, com esse sonho grande de ser um banco global. O que causou uma mobilização entre as pessoas, um orgulho de pertencer à organização, que reconheceram o trabalho de longo prazo que deve ser construído. É esse orgulho que, muitas vezes, nos ajuda a minimizar uma ou outra deficiência. Eu pessoalmente quando vou para casa toda noite e coloco a cabeça no meu travesseiro, penso: Poxa, posso me sentir frustrado em algumas situações, diante de um processo que não funciona ou de um sistema que ainda não foi bem desenvolvido para nos ajudar a servir melhor nossos clientes. Mas, então, penso que estou em uma empresa ética, sólida, com vocação de crescimento, em um dos maiores bancos do mundo. Isso é muito mais forte, mais motivador.

Houve cortes?


Não, o que aconteceu foi um turnover natural que já existia, principalmente nas áreas de atendimento. Mas o banco continuou expandindo em áreas importantes, realocamos três mil pessoas, processo feito em parceria com o sindicato. Realocamos o profissional que poderia não ser aproveitado na nova organização. Tínhamos uma "célula" de recursos humanos que identificava a possibilidade desse profissional ser aproveitado em outra área. Nós tivemos 76% de aproveitamento.

Há dez anos, o Itaú dava o primeiro passo para acabar com velhos símbolos corporativos. Um alto executivo que tinha privilégios por ter o cartão prata, por exemplo, perdeu regalias. Hoje, que outras ações foram tomadas?

A mais recente, que aconteceu logo após o anúncio da fusão, foi acabar com salas próprias, fechadas, levando o gestor a fica mais próximo de suas equipes.

Essa nova cultura começou com Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles, que dividem o espaço com outros executivos. Diretores e superintendentes também trabalham em salas compartilhadas.
Isso mexeu com a vaidade dos executivos?

Talvez de alguns poucos, mas quando o exemplo é dado de cima, ou seja, no momento em que Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles também mostram o desapego à vaidade e assumem dividir o espaço com outras onze pessoas, não há espaço para ninguém reclamar. Em gestão de pessoas, o difícil é quando é dada uma ordem de cima e esta não repercute naqueles que as tomaram.

O Itaú sempre foi conhecido como banco de engenheiros e o Unibanco de administradores...

Tudo na vida tem prós e contras. Boa parte do sucesso do Itaú se atribui ao fato de ter engenheiros, com altíssima competência em processos, tecnologia e gestão do risco. É um valor enorme. Agora, como tudo na vida, há rótulos para o bem e para o mal.

A cultura imediatista, pressão de curto prazo, adotada pelo Unibanco deve gerar reflexos na nova organização?

Vejo uma grande contribuição que é a obsessão pela eficiência. Esse é um valor importante que a nova empresa Itaú Unibanco está percorrendo. Não é reduzir custo por si só, mas buscar cada vez mais decisões eficientes na gestão do seu recurso financeiro.



Por Julio Sergio Cardozo - Portal administradores

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