Se as previsões de crescimento para 2010 se confirmarem e o Brasil aumentar seu Produto Interno Bruto (PIB) na casa dos 6%, a necessidade por mão de obra qualificada atingirá níveis recordes no país, advertem os especialistas. "Toda vez que o Brasil cresce mais do que 4,5%, há escassez de gente especializada. Esse número é cabalístico", resume José Pastore, professor titular da Faculdade de Economia e Administração e da Fundação Instituto de Administração (USP) e consultor em relações do trabalho e recursos humanos.
Os setores mais carentes de profissionais gabaritados são também os que, nos últimos dois anos, se destacaram por atrair grandes investimentos. Companhias petroquímicas e de infraestrutura, por exemplo, estão sendo obrigadas a recrutar pessoas até em outros países para ocupar cargos no Brasil. Empresas de tecnologia da informação, meio ambiente e aquelas voltadas ao agronegócio adotam saídas semelhantes.
A escassez não escolhe sexo ou idade e está pulverizada por todas as regiões. Praticamente todos os estados brasileiros contam com um pequeno exército de pessoas com capacidade de trabalho e experiência, mas fora do mercado. Na Bahia, são 183.770; no Pará, 53.637 e no Rio Grande do Norte, 35.940. "Resolver esse problema vai levar tempo, apesar dos avanços verificados na educação e na profissionalização do trabalhador", completa Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios.
Cerca de 650 mil profissionais com qualificação e experiência ficarão sem emprego ao longo de 2010. É o saldo entre a oferta e demanda de mão de obra, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Isso depende das variáveis típicas de cada estado e de cada atividade econômica. A agricultura vai precisar de mais de 10 mil trabalhadores em São Paulo, mas vai dispensar 6.191 na Bahia", exemplifica o pesquisador Fernando Mattos, do Ipea. Para o professor do departamento de administração da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Pinho, o Brasil paga o preço de ter abandonado o ensino técnico. "De forma enganosa, o empresariado colocou profissionais graduados, abundantes na época de recessão, em funções técnicas, acreditando que iam ganhar com isso", completa.
Diagnóstico
A crise econômica m undial refletiu negativamente sobre o ritmo de absorção de trabalhadores qualificados. Entre 2005 e 2007, o país experimentou taxas expressivas de contratação de profissionais bem preparados e experientes. Com a queda da atividade econômica no Brasil e no exterior, a estagnação que atingiu o emprego como um todo prejudicou, sobretudo, a recolocação dessas pessoas. "A crise econômica mundial freou o mercado de trabalho brasileiro, mas não o fez piorar. Aquele avanço entre 2007 e 2008 não se repetiu de 2008 para 2009, mas também não houve recuo. O mercado, simplesmente, deixa de melhorar", analisa o gerente da pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo.
Correio Braziliense
Letícia Nobre
Luciano Pires
Publicação: 12/04/2010 09:02
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